|
Towards a Just and Lasting Peace Conference Secretariat
International League of Peoples’ Struggles – Participating Organizations
in Canada
SPEAKERS' PAPERS
Sobre a Paz justa
Racquel Scarlatelli
Hoje, mais do que nunca, em todo o mundo, se discute o problema da guerra e da paz. A agressão ao Iraque e o genocídio feito pelas tropas de ocupação provocaram a repulsa internacional. As atrocidades cometidas pelo invasor imperialista contra a nação e o povo iraquiano fizeram aumentar o repúdio às guerras, assim como elevaram às alturas as aspirações de paz.
Porém, antes da ocupação, o USA se utilizou de propaganda enganosa ao acusar o Iraque de possuir armas de destruição massiva. Somente com o passar do tempo ficou claro para todos que as idéias do imperialismo de “desarmar”, “libertar” e “reconstruir” o Iraque eram apenas pretextos para justificar sua criminosa invasão.
E hoje, por mais que os monopólios de comunicação insistam em chamar de “terroristas” as ações da guerrilha iraquiana, é evidente que a resistência luta contra as tropas invasoras, que querem colonizar o Iraque, para controlar seus recursos naturais, principalmente o petróleo, escravizar e explorar seu povo. O povo e a resistência iraquiana têm toda a legitimidade para se oporem à ocupação, com todos os meios necessários ao seu dispor. Fazem uma guerra justa, enquanto que a agressão imperialista é uma guerra injusta.
Não é possível existir um mundo sem armas, sem exércitos e sem guerras, enquanto ainda existir o sistema imperialista. A guerra no Iraque comprova, mais uma vez, que o imperialismo é a origem das guerras contemporâneas. E não deixa dúvidas de que, para garantir a tão almejada paz, é imprescindível lutar contra a sua política de agressão e de guerra.
Muitas e muitas mentiras sobre o problema da guerra e da paz seguem sendo inventadas, hoje, pelo imperialismo e seus serviçais. Todas essas mentiras acabam desempenhando um papel auxiliar da violência reacionária na medida em que confundem e imobilizam as massas impedindo-as de lutar, de maneira resoluta e eficaz, contra aqueles que promovem a agressões e as guerras.
Por isso, uma importante tarefa do momento é elevar a consciência dos povos, em todo o mundo, acerca de quem é seu inimigo principal; revelar a amplitude da crise do sistema; despertar a consciência revolucionária e a sua decisão de como lutar corretamente contra ele, em defesa da paz.
O heroísmo da resistência iraquiana está comprovando que os povos explorados, oprimidos e atacados, quando se organizam e lutam da maneira correta, podem derrotar seus inimigos, ainda que eles tenham grande superioridade bélica. A resistência iraquiana está revelando o poder da força do povo.
Os ianques esperavam ser a ocupação do Iraque uma mensagem ao mundo e, principalmente, aos povos oprimidos, de sua invencibilidade, da inevitabilidade de sua supremacia e inquestionável onipotência. Mas, a selvageria imperialista está revelando a capacidade de resistência dos povos oprimidos. E o povo iraquiano compreendeu que para conquistar a sua libertação tem que combater. E, dia após dia, vem golpeado vigorosamente as tropas de ocupação e seus colaboradores, impondo fragorosas derrotas aos imperialistas e seus lacaios.
América Latina e Brasil
Enquanto isso, a crise política na América Latina se agrava. A cada dia torna mais difícil para as classes dominantes manter estável sua dominação do continente. E submetidos a uma espiral de fome, miséria e repressão, o povo latino rebela-se estimulado pela resistência iraquiana, pela luta popular e revolucionária em outras partes do mundo. Uma situação revolucionária se desenvolve.
Esta situação explosiva está forçando o imperialismo ianque a deslocar o eixo de suas preocupações e de seus ataques, do Oriente Médio para a América Latina. As crises econômicas dos países latinos não têm perspectiva de solução e ameaçam a dominação ianque total do continente.
O USA segue ameaçando Cuba e prepara um plano de contingência para uma possível agressão à Venezuela, além de instalar bases militares no Equador, Peru, Paraguai e Colômbia e de preparar a instalação de outra na Tríplice Fronteira do Prata, que engloba Brasil, Argentina e Paraguai.
Na condição de maior consumidor mundial de petróleo, o USA vive uma situação crítica. E como a Venezuela, que é seu segundo maior fornecedor de petróleo, está fora de seu controle, esta situação se agrava. Neste quadro, as contestações de Chávez ao USA são manejadas pela Casa Branca como pretexto para uma futura intervenção.
No entanto, em geral, na América Latina, o imperialismo segue explorando e oprimindo os povos através de seus governos títeres. Os governos de “esquerda” têm servido aos seus interesses, sem que, para isso, seja necessário, até então, uma intervenção militar direta. Confundem e barram a luta das massas.
Mas, ainda assim é visível e crescente a fascistização na América Latina. Além do fato do fascismo ser a política aplicada pelo imperialismo, permanentemente, nas colônias e semicolônias, neste momento, esta é a única via do imperialismo para manter seu domínio ameaçado pelo agravamento da crise geral e pelas rebeliões populares no continente.
No Brasil, os últimos acontecimentos falam por si. No dia 3 de abril, em Belo Horizonte, Minas Gerais, a polícia militar ataca com balas de borracha e cassetetes os manifestantes que protestavam contra a reunião anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). No dia 22 de maio, em Brasília, capital federal, o Ministério da Educação recebe estudantes com truculência e manda prender 30 universitários que protestavam contra as mudanças no curso de Pedagogia contra a reforma universitária do governo Lula.
No dia 6 de junho, camponeses invadem o Congresso nacional em protesto contra a “reforma agrária” de Lula. Governo federal, deputados e partidos burgueses, ajudados pelos monopólios de comunicação, encetaram uma campanha difamatória e anti-comunista contra a liderança do movimento, que foi presa juntamente com 580 camponeses. O presidente do Congresso, deputado Aldo rebelo, do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), desonrando a história dos comunistas, assumiu papel de polícia e ordenou a prisão dos camponeses, enquanto Lula dizia que todos iriam pagar pelo “vandalismo” com o rigor da lei. A repressão virulenta e o discurso reacionário contra o povo em luta aumentou.
Em meados do mês de maio, na cidade de São Paulo, durante um fim de semana, a polícia promoveu a matança de 400 pessoas, ditas suspeitas, durante confronto entre a organização, surgida nos presídios, chamada de Primeiro Comando da Capital (PCC) e a própria polícia. Nem no Iraque morrem 400 pessoas num só fim de semana! O PCC matou 42 policiais, e paralizou a cidade promovendo mais de 300 ações armadas de ataques a postos policiais e delegacias.
O Brasil tem a segunda maior população carcerária de toda a América, com 187,7 presos para cada 100 mil habitantes. Perde apenas para o USA, que tem 740 presos para cada 100 mil habitantes. Fatos como este que aconteceu em São Paulo, e outros, revelam o elevado grau de decomposição do Estado.
Enquanto isso, o povo enfrenta uma realidade de penúria e de sofrimento: passados três anos e meio de governo Lula, mais de 14 milhões de brasileiros passam fome e 72 milhões não têm alimentos em quantidade e qualidade adequadas.
Para enfrentar a fome, Lula insiste no seu demagógico programa “fome zero”, que não passa de esmola para os miseráveis e famintos, já que a fome é um problema estrutural, que não pode ser resolvido com programas de políticas compensatórias, receitados pelo imperialismo.
O salário mínimo no Brasil é de apenas 155 dólares mensais e o desemprego, durante seu governo, atingiu a taxa oficial de 12%, chegando a 20%.
Lula intensificou a concentração da propriedade da terra no Brasil; estimulou a especulação com a terra e financiou o chamado agronegócio de exportação de grãos. Situação que fez aumentar muito a violência no campo, onde somente no ano de 2006 foram presos mais de 100 camponeses. E onde o latifúndio usa os mercenários e a polícia militar para defender suas propriedades e atacar os camponeses que lutam pelo direito à terra para nela trabalhar.
O monopólio das riquezas e das terras nas mãos de uma minoria foi mantido, apesar da propaganda oficial dizer o contrário. A burguesia e o latifúndio, a serviço do imperialismo, seguem seu domínio de terror no Brasil, martirizando, agredindo e assassinando o povo pobre, nas cidades e no campo. É a escalada fascista – repressão, monopólios de comunicação, grupos de extermínio, sistema judiciário e leis.
O sistema imperialista-capitalista e seus proprietários - a burguesia imperialista, seus colaboradores e lacaios – são a fonte de todo e qualquer tipo de exploração, de injustiça, de pobreza e de crueldade. Portanto, não é possível ter liberdade, paz e solidariedade verdadeiras sem acabar com a hegemonia econômica, social, ideológica, política, cultural e militar desse poder reacionário, destruindo o velho Estado e criando o novo poder dos explorados e oprimidos.
Para conquistar a paz justa é necessário lutar. Desmontar as fraudes e mentiras dos imperialistas e dos governos oportunistas e se organizar para a luta. Os povos revolucionários aceitam esta visão, enquanto os imperialistas e reacionários a temem e a atacam.
A paz justa só é possível com a luta dos povos e não com súplicas. Só se pode defender a paz com eficácia apoiando-se nas massas populares e lutando, respondendo medida por medida, contra a política imperialista de agressão e de guerra e a opressão ods regimes locais.
|
|